domingo, 15 de julho de 2012

A ARTE DE "FLANAR" PELA CIDADE


Caminhar é mais do que um esporte, é uma arte. Portanto, caminhar, perambular, "flanar" é a atividade mais importante de toda e qualquer cidade. Em nosso Blog apresentaremos este tema diante do olhar da literatura de João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, cronista e errante urbano que descreve nos jornais suas errancias pela antiga cidade maravilhosa. O mesmo destaca a importância do flâneur em seu trabalho - A alma encantadora das ruas - no cotidiano urbano. vejamos então o que diz o próprio João do Rio no jornal Gazeta de Notícias, em 1905.

"Eu amo a rua[...] para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhes as delícias como o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades e os nervos com o perpétuo desejo imcompreensível, é preciso ser aquele que chamamos de flâneur e práticar o mais interessante dos esportes , a arte de flanar." (Jornal Gazeta de Notícias, 1905)

FLANAR NA PERCEPÇÃO DE JOÃO DO RIO

"...Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas. Do alto de uma janela como Paul Adam, admira o caleidoscópio da vida no epítome delirante que é a rua; à porta do café, como Poe no Homem da Multidões, dedica-se ao exercício de adivinhar as profissões, as preocupações e até os crimes dos transeuntes.

[...] O flâneur é ingênuo quase sempre. Para diante dos rolos, é o eterno "convidado do sereno" de todos os bailes, quer saber a história dos boleiros, admira-se simplesmente, e conhecendo cada rua, cada beco, cada viela, sabendo-lhe um pedaço da história, como se sabe a história dos amigos (quase sempre mal), acaba com a vaga idéia de que todo o espetáculo da cidade foi feito especialmente para seu gozo próprio.

[...] Quando o flâneur deduz, ei-lo a concluir uma lei magnífica por ser para seu uso exclusivo, ei-lo a psicologar, ei-lo a pintar os pensamentos, a fisionomia, a alma das ruas. E é então que haveis de pasmar da futilidade do mundo e da inconcebível futilidade dos pedestres da poesia de observação...Eu fui um pouco esse tipo complexo, e, talvez por isso, cada rua é para mim um ser vivo e imóvel." (João do Rio, A alma encantadora das ruas)

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