domingo, 17 de março de 2013

HISTÓRIA E MEMÓRIA: A RUA E SEUS ENCANTOS

Foto: Prof. Petrônio Lima - Centro de Ipu. 2013

"A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer as pedras para as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melopéia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos essa miséria da criação, e por isso é a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas..."

A rua faz as celebridades e as revoltas, a rua criou um tipo universal, tipo que vive em cada aspecto urbano, em cada detalhe, em cada praça, tipo diabólico que tem dos gnomos e dos silfos das florestas, tipo proteiforme, feito de risos e de lágrimas...Eu sou a rua, mulher eternamente verde jamais encontrei outra carreira aberta senão a de ser a rua e, por todo o tempo; desde que este penoso mundo é mundo, eu a sou..." ( Crônicas de João do Rio - A alma encantadora das ruas, 1908.)

domingo, 6 de janeiro de 2013

CAMINHANDO NA CIDADE - O VELHO BECO


Foto: Petrônio Lima (Caminhando na cidade)

CAMINHANDO NA CIDADE: O VELHO "BECO DA BEINHA"

Caminhando pela cidade podemos observar uma antiga artéria colonial conhecido popularmente como "Beco da Beinha", localizada no Quadro da Igreja no centro. Na esquina ainda guarda os vestígios do que sobrou do velho casarão da Escola Normal Rural de Ipu. Esse estreito beco da acesso ao bairro mais populoso de Ipu, o "Alto dos Quatorze".Na fotografia tirada na esquina do "Bar do Ribamar" mostra apenas uma vista um pouco distante do velho muro imperial construído no governo de D.Pedro II.



domingo, 4 de novembro de 2012

A POESIA TREKKING DE ESTELAMARIS

Foto do acervo da amiga aventureira Estelamaris 

Poesia Trekking da aventureira e amiga Estelamaris

Ideias sopram ao vento...

Busco a todo momento me entender e rever meus pensamentos
Neles me viro, reviro e tento entender o que me faz mover,
Mover em direção ao novo, desconhecido, inusitado
Pessoas passam pela minha vida e me mostram os diferentes caminhos a seguir
Por eles me perco, me encontro e me desencontro
Tudo é um turbilhão de sensações, emoções e conhecimento
Hora são momentos, ora são tormentos
E assim me sustento
Com ideias que sopram aos ventos
Construções, desconstruções e necessidade de recriar
De reinventar , de adequar e de buscar
Buscar a paz, a energia que emana da história
Da minha história, das nossas histórias
Encontrar a paz, a quietude da alma?
A quietude do espírito crítico e enlouquecedor
O que seria de mim se não fosse esse sentimento de descontentamento
Que me leva a buscar, a trilhar e a andar por caminhos desconhecidos
Me arriscar como se fosse um pássaro livre sem ninguém para segurar
Para vigiar ou para bloquear
Assim minhas ideias sopram aos ventos e
Me contento, me oriento e me sustento
Dentro daquilo que considero fundamento
Fundamento real, essencial
Buscar sempre o elemento que é complemento
Suplemento e inquietamento
Assim como minhas ideias eu busco sobreviver ao sopro dos ventos!

ESTELAMARIS – 2012.

domingo, 15 de julho de 2012

A ARTE DE "FLANAR" PELA CIDADE


Caminhar é mais do que um esporte, é uma arte. Portanto, caminhar, perambular, "flanar" é a atividade mais importante de toda e qualquer cidade. Em nosso Blog apresentaremos este tema diante do olhar da literatura de João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, cronista e errante urbano que descreve nos jornais suas errancias pela antiga cidade maravilhosa. O mesmo destaca a importância do flâneur em seu trabalho - A alma encantadora das ruas - no cotidiano urbano. vejamos então o que diz o próprio João do Rio no jornal Gazeta de Notícias, em 1905.

"Eu amo a rua[...] para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhes as delícias como o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades e os nervos com o perpétuo desejo imcompreensível, é preciso ser aquele que chamamos de flâneur e práticar o mais interessante dos esportes , a arte de flanar." (Jornal Gazeta de Notícias, 1905)

FLANAR NA PERCEPÇÃO DE JOÃO DO RIO

"...Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas. Do alto de uma janela como Paul Adam, admira o caleidoscópio da vida no epítome delirante que é a rua; à porta do café, como Poe no Homem da Multidões, dedica-se ao exercício de adivinhar as profissões, as preocupações e até os crimes dos transeuntes.

[...] O flâneur é ingênuo quase sempre. Para diante dos rolos, é o eterno "convidado do sereno" de todos os bailes, quer saber a história dos boleiros, admira-se simplesmente, e conhecendo cada rua, cada beco, cada viela, sabendo-lhe um pedaço da história, como se sabe a história dos amigos (quase sempre mal), acaba com a vaga idéia de que todo o espetáculo da cidade foi feito especialmente para seu gozo próprio.

[...] Quando o flâneur deduz, ei-lo a concluir uma lei magnífica por ser para seu uso exclusivo, ei-lo a psicologar, ei-lo a pintar os pensamentos, a fisionomia, a alma das ruas. E é então que haveis de pasmar da futilidade do mundo e da inconcebível futilidade dos pedestres da poesia de observação...Eu fui um pouco esse tipo complexo, e, talvez por isso, cada rua é para mim um ser vivo e imóvel." (João do Rio, A alma encantadora das ruas)

terça-feira, 10 de julho de 2012

SIMPÓSIO: MINICURSO - CAMINHAR, TRILHAR, ANDAR


Foto: Prof. Petrônio Lima - Trilha da Ladeira de São Sebastião 

TEMA: CAMINHAR, TRILHAR, ANDAR:UMA FUNÇÃO “CIVILIZADORA” 

Nos dias 05 e 06 de julho de 2012, foi realizado o minicurso sobre a história da caminhada urbana e rural na escola Estadual de Educação Profissional Antonio Tarcísio Aragão, na realização do IV Simpósio de Ipu pelo professor Petrônio Lima, pesquisador e praticante de trekking e trilhas na Ibiapaba. Contou com a participação do professor e músico João Freire que abordou a sua pesquisa em história sobre a ladeira de São Sebastião de Ipu, a conhecida Trilha da “Lasca da Velha”, “onde expôs a sua importância sobre o escoamento e abastecimento da produção agrícola, como frutas legumes e hortaliças”, o que era destinado à antiga feira de Ipu.

Antes, porém o prof. Petrônio Lima levantou a questão sobre a prática da caminhada Trekking que vem crescendo nas últimas décadas, inclusive no Ceará citando os grupos “Bichos do Mato” e o “Calangos da Trilha” de Ipu, um grupo de aventureiros e andarilhos que atua oficialmente a quase quatro anos, no qual o mesmo é um dos fundadores do grupo. Na ocasião foi explicado a origem da palavra “trekking” e suas modalidades, bem como os cuidados básicos de se praticar trilhas ou se aventurar nas matas e estradas da serra e sertão de Ipu. O interessante em sua análise foi o destaque para a diferenciação histórica e cultural do caminhar na cidade, “uma outra forma de se locomover e movimentar o corpo.” O professor e historiador Petrônio Lima aproveitou a ocasião e abordou a sua pesquisa para o mestrado que trata sobre as experiências e memórias do andarilho urbano em Ipu.

O segundo dia do minicurso teve a importante participação dos Escoteiros de Ipu, onde mostrou as técnicas de se comportar no mato como também os cuidados básicos sobre o que levar para uma trilha de curto percurso. Horas depois os alunos do minicurso assistiram um filme (A Trilha) e ao terminar foram dados as ultimas informações da atividade prática da trilha da ladeira de São Sebastião – Lasca da Velha, que foi realizada no domingo dia 08 de julho, que teve aproximadamente 37 participantes.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

LAMPIÃO: UMA OUTRA HISTÓRIA DO CANGAÇO

Lampião e sua máquina de costura

 LAMPIÃO E SUA INFLUÊNCIA NA ESTÉTICA E MODA DO CANGAÇO 

A simples menção ao nome de Lampião fazia tremer o cabra mais macho do Nordeste. Virgulino Ferreira da Silva, seu nome de batismo, aterrorizou o sertão, entre 1916 e 1938, com seu bando que contava 200 homens. Nos sete Estados da Federação onde a lei parecia ausente e a polícia, chamada de Volante, cometia excessos, Lampião e sua gangue justificavam seus assassinatos, degolas, estupros e assaltos com supostas bandeiras sociais e, assim, conseguiam angariar alguma simpatia da população pobre.

Mas, quando não estava praticando crimes, o cangaceiro se atracava com agulhas e linhas para costurar e bordar, indamente, roupas, revestimentos para cantil, cinturões, bornais (espécie de bolsa) e os lenços que usava ao estilo "Jacques Leclair", o protagonista costureiro da novela global “Ti-ti-ti”. Seu sanguinolento bando exibia uniformes bordados com flores, estrelas e símbolos místicos. Embora cause estranheza, este apuro estético tinha uma finalidade: servia para despertar admiração entre a população e, também, como patente hierárquica do bando. Lampião acreditava ainda que alguns símbolos blindavam seus homens contra maus espíritos.

O lado excêntrico e quase marqueteiro do famoso bandoleiro emerge pelas mãos de uma das maiores autoridades brasileiras em cangaceiros, o historiador Frederico Pernambucano de Mello, “o mestre dos mestres quando o assunto é cangaço”, como dizia o antropólogo Gilberto Freyre. Mello acaba de lançar o livro “Estrelas de Couro – A Estética do Cangaço” (Escrituras, 258 págs.), no qual mostra que, ao impor um estilo próprio de vestuário, Lampião incutia os valores do cangaço aos homens do seu bando e estabelecia a diferença entre a sua tropa e os “outros.” Lampião, aliás, odiava ser confundido com cangaceiros comuns.

A força da roupagem luxuosa que ele criara – e incluía metais e até ouro, além de moedas e espelhinhos –, chegou a influenciar as vestimentas dos policiais. Antes de costurar, ele pegava um papel pardo e desenhava, depois levava o papel para a máquina Singer e cobria o tecido. “Ele não era apenas o executor do bordado. Era também o estilista”, afirma Mello. “No início, a moda era ofício masculino”, garante a professora de história da indumentária e antropologia da moda Silvia Helena Soares, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Ela vê nas criações de Lampião um estilo de moda que remonta à época do Renascimento (século XVI), quando os homens bordavam as joias na própria roupa. “Era tudo grandão, pesado. Não tinha nadade delicadinho”, afirma. Para o historiador Luiz Bernardo Pericás, autor de “Os Cangaceiros: Ensaio de Interpretação Histórica”, os uniformes dos cangaceiros ficaram tão enfeitados que pareciam fantasias. “Era um dos aspectos da extrema vaidade daqueles bandoleiros”, diz Pericás.

Lampião aprendeu a manejar a linha e a agulha muito antes de tomar gosto pelo rifle. Quando menino, quase adolescente, Virgulino fazia tecidos de couro muito bem ornamentados, resistentes e esteticamente valiosos para vender nas feiras. “Era famoso como alfaiate de couro”, afirma o historiador Mello. Ele foi parar no crime porque sua família se envolveu numa guerra com fazendeiros vizinhos. Dizem que era tão hábil com a espingarda que conseguia dar tiros consecutivos que clareavam a noite. Daí a alcunha de Lampião. O Rei do Cangaço morreu aos 40 anos, em 1938, junto com a fiel companheira, Maria Bonita – que, igualmente, andava coberta de roupas, chapéus, cintos e bolsas bordadíssimas.

O casal e nove homens do bando foram decapitados e as cabeças expostas como troféus pela polícia nas escadarias da igreja de Piranhas, em Alagoas. Ali, foram fotografadas ao lado de objetos preciosos do grupo, como espingardas e cartucheiras, além de outras armas de Lampião: duas máquinas de costura Singer, o sonho de todas a donas de casa da época. Se tivesse escolhido a profissão de costureiro, Lampião (até hoje cons tantemente revisitado pela indústria fashion) certamente teria tido uma carreira brilhante.

http://textileindustry.ning.com/profiles/blogs/a-influencia-do-cangaceiro
Fonte: Blog de José Mendes Pereira

quarta-feira, 27 de junho de 2012

ESTRELAS DE COURO - A ESTÉTICA DO CANGAÇO


A Estética do Cangaço, por Frederico Pernambucano de Melo ( TEXTO PUBLICADO NA REVISTA MENSCH (N30, MAIO DE 2011)

O universo do cangaço sempre foi um assunto muito próprio do universo masculino, onde os homens dominavam e comandavam seus grupos. Tanto que o mais famoso representante dessa cultura de foras da lei, o Mestre Virgulino, vulgo Lampião, até hoje é tema de livros e estudos. Sempre com histórias ligadas a nossa cultura, em especial pelo cangaço que nos fascina com seus “causos” e relatos. Para saber um pouco mais dessa cultura fomos atrás do celebre escritor pernambucano Frederico Pernambucano de Melo, que recentemente lançou o livro “Estrelas de Couro, a Estética do Cangaço” que mostra a face oculta quando se fala em cangaço. Frederico é Procurador Federal e Historiador, pesquisou a fundo as histórias do cangaço e passou dias na caatinga como os antigos “cabras” do bando de Lampião.

E em breve será o curador do Museu no Estado sobre o tema. Sobre a vontade de ser escritor e falar sobre o cangaço, Frederico nos falou não saber se o homem descobre a vocação ou se a vocação descobre o homem, mas o fato é que ele é um homem dos dois mundos já que a família do pai é do litoral e a da mãe do alto sertão. Quando jovem Frederico gostava de ouvir as histórias dos antigos cangaceiros que fizeram parte do bando de lampião que costumavam freqüentar sua casa para escutar suas histórias, nessa época já sentia necessidade de relatar e perpetuar para história o conhecimento de um universo real nordestino e da sua saga mais apaixonante que foi o cangaço.

Frederico foi muito amigo do escritor e sociólogo Gilberto Freire, que era primo de seu avô paterno Ulisses Pernambucano de Melo, essa amizade começou na época em que ele fazia faculdade, já que seu maior desejo era fazer parte do grupo montado por ele e composto por Silvio Rabino (psicólogo social), René Ribeiro (escritor), Estevão Pinto (historiador) e tantos outros. Frederico passou 15 anos trabalhando como assistente dele, seu ensinamento mais precioso foi sobre a percepção. Ele dizia que a percepção era a porta de entrada para grande inteligência e completava com a frase “prestem bem atenção a pormenores que iluminam”.

Mas como você avalia a opinião popular sobre o cangaço? “Cambiante como sempre já que é contada por duas vertentes, a dos antigos oficiais de polícia que tinham combatido o cangaço e que por isso os demonizava e pelos marxistas que desculpavam todas as brutalidades cometidas pelos mesmos.” Sobre os autores que dedicaram parte da sua vida a relatar sobre o cangaço, Frederico nos cita José Lins do Rego com “Pedra Bonita” e “Cangaceiros”, Graciliano Ramos com “Vidas Secas”, Cândido Portinari com a coleção "Cangaceiros", na Europa quando o tema é citado através de Glauber Rocha com “O Dragão da maldade Contra o Santo Guerreiro” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e Lima Barreto com o filme “O Cangaceiro”.

Frederico vê o cangaço como um movimento de irredentismo brasileiro, já que no processo de descobrimento os europeus relatavam que aqui se vivia "sem lei, nem rei e se era feliz". “Esse mito fez com que certos grupos sociais no Brasil desde os primórdios da colonização ficassem a margem do processo que se desdobrou a partir de uma ideologia chamada mercantilismo que é considerada como o pré-capitalismo. Foram esses os valores que o descobridor nos trouxe.

Alguns grupos se afeiçoaram e aceitaram até serem escravizados para entrar no processo econômico e de grande prestígio dos metais nobres, os que não se renderam a esses encantos se mantiveram as margens e muitas vezes de arma em punho para uma possível defesa.”Sobre como surgiu a idéia de misturar versos populares em trechos do seu livro “Guerreiros do Sol”, Frederico nos fala que “surgiu para mostrar a cultura e a história de um povo que por muitas vezes só recebeu notícias através dos versos cantados na boca dos ciganos, no sertão ainda é comum reunir as pessoas para declamar canções, versos ou causos.”

Uma curiosidade bem comum é sobre o significado e a importância dos símbolos estampados nas peças que eram usadas pelos cangaceiros. Que na verdade, segundo Frederico, era a representação das crenças populares onde se buscava nos símbolos uma forma de proteção. Além de trazer defesas e atacar os inimigos, muitos serviam como adorno estético. Um dos principais é a estrela de Salomão que é uma espécie de blindagem, já que os cangaceiros acreditavam que elas devolviam todo mal que era desejado a eles.

Frederico nos relata uma curiosidade interessante, que tais adornos eram feitos pelos próprios cangaceiros, exímios costureiros e pode-se dizer até que eram “estilistas”, que muitas vezes desenhavam antes de iniciar a costura. Em alguns caso costurar rendia a um “cabra” a liderança de um subgrupo já que assim ele conseguia “condecorar” seu bando. Para saber um pouco mais sobre a estética e a influência do cangaço na sociedade, recomendamos, além dos filmes citados por Frederico, os seus dois livros, “Estrelas de Couro, a Estética do Cangaço” e “Guerreiros do Sol”.

Fonte: REVISTA MENSCH (N30, MAIO DE 2011) Texto/ Entrevista: Jamahe Lima