segunda-feira, 9 de agosto de 2010



Imagem extraída do jornal Diário do Nordeste, mostrando então o cotidiano das bodegas no interior cearense.

AQUELA VELHA BODEGA!..

Ao observar aquele magro e solitário balcão
que por sobre o mesmo se encontravam
sacos e cordas entre couros curtidos de animais...
Misturados ao forte cheiro de cachaça,
sentia por um instante um ar tranqüilo e sereno,
típico de um ambiente rústico, porém majestoso!
O velho crucifixo de palha por entre o calendário
posto ao lado do rádio de pilha de botões dourados.
Cabos e ligas de baladeiras pendurados
próximo à prateleira vazia...
Do outro lado, uma pequena gaiola
Jogada entre os litros e surrões de farinha,
bem perto à segunda porta de entrada
da velha bodega...
Era o estabelecimento de seu João Passos
Ponto de encontro das pessoas simples
Lugar preferido dos amigos e fregueses
mais conhecidos na cidade.
Referência dos viajantes e comerciantes
que por lá se encostavam...
Era lá também onde de costume, a garotada
juntava tampinhas e carteiras secas de cigarro
Tempos de minha infância em Ipu!
Apenas memórias de um lugar comum...
Uma outra cidade viva e
esquecida pelo tempo!...
Coisas que não se ver nos livros de história!...
E quando a semana findava
sertanejos e serranos dividiam o espaço
na bodega de seu João...
Era dia de feira na cidade,
e ao despertar do dia, quase ao amanhecer
ouvia-se pisadas e relinchar de cavalos e jegues
que se dirigiam ao famoso “Beco da Beinha.”
Antiga artéria colonial que
ainda hoje dar acesso a feira livre de Ipu...
Quando mal o bodegueiro abria a porta
sempre algum transeunte de voz alta e renitente falava:
Bom dia seu João!... Bom dia seu Zé...
Seu João põe aquele cafezinho de sempre
“adispôs” eu pago...Pois não seu Zé
Aqui quem manda é o freguês!...
Respondia seu João bodegueiro
ao som de Genival Lacerda
tocando em seu rádio: “Quem não
conhece Severina Xique-xique!!!”
Dia a pós dia aquela vida tranqüila
muitas vezes agitava-se com as
últimas novidades da política local,
ou então devido algum fato pitoresco
e hilariante na cidade....
E assim era a vida cotidiana de seu João,
o tempo todo por trás daquele
magro e solitário balcão, anotando os fiado,
contando e recontando a lista dos “velhacos”
que lhe devia há meses...
Mas também feliz pelo lucro garantido
de sua clientela assídua que vazia
movimentar seu pequeno comércio...
Tudo regrado com muita arte e ofício de um bom bodegueiro
que sabia como ninguém agradar seus fregueses!

Petrônio Lima
Professor de História
petroniolima2@yahoo.com.br

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