segunda-feira, 7 de maio de 2012

CAMINHAR TAMBÉM É HISTÓRIA

Resumo do trabalho que apresentarei no IV Simpósio de Ipu em julho de 2012. Pesquisa em processo de amadurecimento para o mestrado em História Cultural.

 CAMINHAR TAMBÉM É HISTÓRIA: ANDANÇAS, MEMÓRIAS E REPRESENTAÇÕES NO USO DO ESPAÇO URBANO EM IPU (1920-1940)


Foto: Acervo fotográfico do Prof.: Francisco De Assis Martins

Por Francisco Petrônio Peres Lima 

Pensar a História por meio da prática do simples hábito de caminhar é uma forma de perceber os espaços reais e simbólicos nas experiências e memórias dos sujeitos sociais em seu tempo. As ruas e calçadas, produzidas em mapas e planos urbanísticos também evocam um passado histórico nas representações do uso do espaço.

Quem não se lembra de algum velho casarão ou sobrado ao andar a pé pelas ruas da cidade ou então das primeiras brincadeiras e namoros nas praças e calçadas. Muito embora, “a forma mais humana de deslocamento do homem” esteja perdendo o espaço para a grande quantidade de veículos automotores, ainda é possível retomar os “lugares perdidos” por meio das memórias e representações dos passeios públicos.

Em nossa pesquisa propomos analisar as lembranças, práticas e representações do “caminhar urbano” no uso dos espaços públicos em Ipu entre os anos de 1920 a 1940 e de que forma o caminhar nas avenidas e praças tentava construir um desejo por uma cidade dita moderna. Ou seja, o hábito de caminhar pela cidade em Ipu não era apenas visto como uma forma “rústica” de movimentação do homem simples, mas também uma prática recorrente pela dita melhor sociedade na idealização dos lugares “xiques” e “elegantes”.

 O “ser moderno”, pertencente a “escol social” era poder andar livremente nos passeios públicos, praças e avenidas. A construção do jardim Iracema em 1927, localizado numa área nobre, pode assim ser definido como uma tentativa em querer copiar o modelo urbanístico das “cidades jardins” dos grandes centros metropolitanos. Dessa forma o caminhar nas avenidas representava, portanto uma separação entre os espaços dos “ricos” e dos “pobres” na pequena “urb sertaneja”.

O passeio a pé nestes locais se diferenciava da forma comum do dia a dia dos andarilhos ou pessoas que circulavam outros lugares, becos e ruas de Ipu, mas ao mesmo tempo mostrava-se como um encontro de socialização e contato maior com natureza urbana. Desta maneira recorremos às fontes orais e escritas para uma melhor análise e reconstituições das lembranças e memórias do caminhante urbano ipuense das décadas de 1920 e 1940. Suas experiências sociais e cotidianas nas andanças e vivencias nos espaços da cidade.

O que não deixa de ser uma reflexão atual sobre a necessidade de rever novos valores, novos paradigmas da importância da caminhada urbana como algo histórico e saudável. Uma maneira prática de se locomover na cidade de forma sustentável, cultural e prazerosa.

UM BREVE HISTÓRICO SOBRE O CAMINHAR NO SÉCULO XX

 Desde tempos mais remotos andar a pé sempre foi a forma mais humana de deslocamento do homem. Com a chamada Revolução Industrial os surgimentos do automóvel assim como as praças iluminadas e elegantes de Paris destacam-se como um referencial da chegada do progresso. Na segunda metade do século XX as separações entre veículos e pedestres passam a incorporar nos projetos de reurbanização das principais cidades brasileiras nas novas formas de moralização dos espaços.

Andar nas ruas e praças ganha novos significados e valores na memória urbana, desta forma as “elites” passam a construir novos lugares de sociabilidade nos locais de movimentação e lazer. O hábito francês do caminhar nas avenidas se incorpora na idealização da cidade moderna, das calçadas e bulevares, contrastando com a realidade social e cotidiana dos becos e cortiços. Daí a necessidade em alargar as ruas, afastar os “pobres” do centro, criar novas praças e avenidas em nome do progresso capitalista.

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