sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

MARIGHELLA: O MULATO REVOLUCIONÁRIO


Entre o "fuzil" e sua grande paixão pelos estudos e a poesia

Você que nunca ouviu falar no líder guerrilheiro "Carlos Marighella" vai agora conhecer um pouco de sua história e certamente nunca mais esquecerá o seu nome. Um simples mulato baiano que fez tremer de medo os generais da Ditadura Civil Militar no Brasil entre os anos de 1964 até 1969. Filho de uma negra baiana com um anarquista italiano, herdou o amor pela liberdade e democracia. Um verdadeiro exemplo de luta pelo o povo brasileiro. Foi político e militante fundador da ALN, assassinado durante o golpe de estado do governo militar brasileiro, que manteve o poder entre 1964 e 1985. Vejamos então o depoimento de seu filho Carlos A. Marighella. O vídeo relata o momento mais obscuro da história nacional, gravado para a novela Amor e Revolução do SBT.



UM POUCO DE SUA HISTÓRIA

Entre os revolucionários que integraram a resistência armada à ditadura instalada no Brasil com o golpe militar de abril de 1964, Marighella foi reconhecidamente uma das lideranças mais destacadas.

A quatro de novembro de 1969, em uma emboscada preparada pelo facínora delegado Sergio Fleury em São Paulo, Carlos Marighella foi friamente assassinado. Este fato, negado insistentemente pelas autoridades policiais e militares, foi finalmente reconhecido pela Comissão especial de Mortos e Desaparecidos do Ministério da Justiça, em 11 de setembro de 1996.

Carlos Marighella era o comandante da resistência armada à ditadura militar mais procurado pelos órgãos de repressão naquele momento. Incansável lutador, não dava trégua ao regime, desmascarando-o a todo instante.

Experiente dirigente comunista, começou a militar no PCB aos 18 anos na Bahia. Sua atividade sempre foi caracterizada por uma grande capacidade política (foi membro da Comissão Executiva do PCB desde 1952), por seu entusiasmo e combatividade. Foi preso várias vezes, sofrendo bárbaras torturas, como em 1939, em São Paulo, quando seus pés foram queimados com maçarico sem, no entanto, fornecer qualquer informação aos torturadores da repressão política. Em 1945 foi libertado com a anistia; em 1946 eleito deputado constituinte, cassado em 1947 com a ilegalidade do PCB. Em 1948, com a repressão instaurada pelo governo Dutra, passou à clandestinidade, na qual ficaria até seu assassinato em 1969.

Em maio de 1964 foi preso dentro de um cinema na Tijuca (Rio de Janeiro) mas, sempre resistindo, denuncia a ditadura, dá vivas à democracia e ao Partido Comunista, quando foi atingido por uma bala no peito. O episódio foi descrito em seu livro “Por que resisti à prisão”.

“Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo”.

Essa sua postura ideológica de enfrentamento teve efeitos importantes na luta interna em curso dentro do PCB. De 1964 a 1967, suas divergências com o partido aumentaram e culminaram com o rompimento.
Em 1967 cria a Ação Libertadora Nacional (ALN), organizando a resistência armada à ditadura. Em fevereiro de 1968, foi divulgado o Pronunciamento do Agrupamento Comunista de São Paulo que expôs os motivos da cisão e que resultou na formação da ALN; e já naquele ano começaram as primeiras ações armadas da organização.

Em setembro de 1969, poucos dias após uma junta militar impedir a posse do vice-presidente Pedro Aleixo e assumir o poder (o golpe dentro do golpe), a ALN e o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) realizam o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, que possibilitou a libertação de vários presos políticos e a denúncia da ditadura em manifesto divulgado pelos meios de comunicação, inclusive a televisão.

O exemplo de Marighella, independentemente de avaliações das posições e práticas políticas que defendeu, empolgou jovens e velhos revolucionários, e foi sem dúvida uma das maiores expressões da luta contra o regime militar. Foi declarado inimigo número um pela ditadura, que contra ele desencadeou uma caçada implacável que culminou na emboscada na alameda Casa Branca (São Paulo) quando foi assassinado, em 4 de novembro de 1969.

O POETA DA LIBERDADE

Carlos Marighella, herói do povo brasileiro, demonstrou sua paixão pela vida, pela justiça e pela liberdade também por meio de poemas. Aliás, sua primeira prisão se deu por conta de um poema em que criticou o interventor Juraci Magalhães na Bahia. Marighella escrevia poesias desde os bancos da escola, onde surpreendeu professores ao fazer uma prova de Física em versos. Escreveu poemas revolucionários, evocativos e líricos, como classifica Clóvis Moura, para quem, “o saldo de seus versos – sem entrarmos em considerações de avaliação de crítica literária – é revelador de uma personalidade desafiadora em todos os ramos da atividade, de uma instigante figura de homem que, pela sua natureza desafiadora deu a sua vida como último poema que escreveu em defesa da dignidade humana: um legado de beleza heróica”.


LIBERDADE

Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.
Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.
Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome”

São Paulo, Presídio Especial, 1939.

Fonte:Reproduzido dos Boletins do CeCAC de novembro de 1996 e novembro de 1997.

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